"O universo parece brincar de desencaixar, enquanto a vida só sabe obedecer."

dezembro 23, 2013

O dia que uma estrela se apaixonou pela Lua

" Perdoa-me, Sol. Perdoa-me, Céu."

             Nenhuma estrela jamais pensou em se apaixonar. Nenhuma estrela jamais pensou em alma gêmea. Mas estrelas e estrelas já caíram de amores. E ainda caem. As paixões são assim, simplesmente vêm. Nenhuma estrela procurou suas paixões. Mas paixões são assim: simplesmente vêm.
             Um dia uma estrela se imaginou, e se imaginar é um fortuito porque estrelas sabem como são. São estrelas, são irmãs, são partes do Céu. Estrelas não precisam pensar em como são.Mas um dia houve uma estrela que se viu diferente das demais. Se imaginou só e se sentiu só. Não é bom que ninguém se sinta só. E foi nesse dia que uma paixão veio. Ninguém está só até que encontra o amor. A solidão aparece quando a gente se dá conta que não se está completo, justamente, porque uma parte de nós foi descoberta em outro alguém. Nesse dia a estrela descobriu-se bem além de si. Nesse dia a estrela descobriu-se na Lua. 
              Ai, o amor!

novembro 15, 2013

Declaração de uma estrela

              Eu estou aqui. E pra ser sincera, ou menos incerta, deveria dizer eu estamos aqui. Não que aqui seja um lugar. Não que com lugar eu esteja falando de espaço. Não, eu definitivamente não sei onde estou no espaço. Mas estou aqui. Ou melhor, estamos aqui. E claro que a confusão da minha fala não era sobre o aqui. A bem da verdade é que eu não estou só. Quer dizer, não há só um dentro desse eu.
             Eu estamos aqui. Não vou assumir um nós porque eu estou apenas falando de mim.
             Aqui dentro de mim parece haver uma colônia.
             Um dia eu quis sair do meu estado eterno. Eu não fazia ideia de que poderia existir um eu. Lá no seio do Céu não havia em mim ou em minhas irmãs algo que nos separasse. Éramos simplesmente nós. Curiosamente simples. Mas um dia a aventura ficou irresistível. Um dia eu quis sair. Um dia eu virei eu. E eu saí. Assim, no singular.
             Cá estamos aqui. Do seio do Céu eu saí. E de lá pra cá só me encantei. Mas parece que cada encanto ocupava um canto dentro de mim. E, mais, parece que não havia cantos suficientes. E foi aí que dentro de mim nasceu mais eu.
             Talvez seja uma regra. Talvez não. Viver em movimento talvez signifique criar mais aquis  do que um simples eu pode suportar. Talvez não. Mas, cá onde estamos agora, eu não sei o que achar. Há tantos dentro do eu que parece que nunca haverá um equilíbrio pra eu saber como reagir. 
             Um dia eu saí do meu estado que até então era eterno. Um dia eu passei a ser mais que um. E uma coisa que eu e eu jamais duvidamos é que coincidências não são obra do acaso. Coincidências são cuidadosamente calculadas. Agora que eu estamos cá num estado de conflito, vou esperar que essa parcela do tempo de agora chegue logo no tempo produto.
             Eu estamos aqui. Logo estaremos lá. Onde quer que esteja lá. 

setembro 16, 2013

Outra parte de um conto

         A vida simplesmente era. Tudo é assim: simples. Sempre simples. Mas parece que pra dar graça na vida, pra enfeitar os dias, é bom que de vez em quando se complique. E é por isso que o simples passou só pra era. A estrelinha se desprendeu da simplicidade que era e passou a ser mais. Largou de si mesma pra se aventurar pelo seio do Céu. 
           O novo encanta. E não havia duvida de que a estrela estava encantada. E ela amava isso. 

junho 26, 2013

Uma parte de um conto

                  Lá estava ela. Até então não havia começo, não havia meio e não havia fim. Para as estrelas o tempo não é um indivíduo, não é algo tratado ou entendido como particularidade. O tempo é parte de um todo. Tudo é parte do todo. O Céu é quem sustenta os seus. E o equilíbrio envolve cada ser, transformando o agora e o sempre em algo perpétuo e único.
                   Mas lá estava ela. Do seio do Céu brilhava e se sorria. Não sabia que outros mundos existiam dentro de tudo o que via. Do seio de si nasceu uma vontade de ver além, um desejo de ir por aí. Elegeu um roteiro e quis perambular entre os mais que a rodeavam. E pra ela o Céu sorriu. Se desprendeu de si, mas continuou com Ele.
                    Por aí estava ela. Agora que se movia, seu espírito só crescia e o que era novo contagiava seus poquês e seus sentimentos  passaram a ter forma. Do seu seio ela gargalhava. Toda uma vida de qualquer estrela é viver. É a pura nobreza do simplesmente ser. Não havia, então, nada que implicasse ou que alterasse. A vida simplesmente era.

maio 23, 2013

Problemas temporais

         Coração apertado, pulmão comprimido e olhos marejados. Pra mim saudade não deixa dor, não magoa, não sufoca. Pra mim saudade faz bem. Minhas memórias me fazem rir, me fazem bem, mas me fazem sentir inveja. Posso estar aqui agora admirando o que já se foi, mas não é a saudade que incomoda. Há um pânico que domina esse corpo que nem meu cérebro, nem minha mente e nem eu conseguimos controlar.
         Que o futuro venha e que eu vá com ele e que tudo mais esteja encaixado no tempo certo aonde deve estar.

março 13, 2013

Contadora de histórias

      Eu já fui estrela. Cá agora estou eu na Terra. Eu sou gente. Aos poucos fui entrando nesse universo novo. Fui me adaptando aos tantos meios e largando meus poucos inteiros. Eu sou gente. Eu quis ser gente. Eu virei bonequinho de vida.
      A Terra me presenteou de uma forma tão única e tão sublime que me encantei. Me enfeiticei. A nova vida, medida em forma e em sentidos, causou um deslumbre tão grande que ser estrela virou um passado. Ser estrela passou a ser uma história, dessas que as gentes contam para os ouvidos atentos e inocentes que mais tarde lembrarão com doçura e saudade mas que as deixarão lá onde foram contadas, no passado.
     Eu fui estrela, agora sou gente. Sou grata pela Terra por todas as milhares de sensações que jamais imaginei existir. Obrigada, Terra, por me acolher tão carinhosamente e tão maternalmente. Ingratidão dei ao Céu. Àquele a quem deixei por amor ao Mar. Àquele que me sustentou por tantas vidas, tantas forças, tantas energias. Perdão, Céu.
      Eu sou gente. Sou de carne e osso. Sou de coração e de mente. Eu me encantei por tudo que me desencantei de mim. Eu fui estrela. Já não brilho mais. Já não me imponho mais. Não sou ingrata com tudo o que vivi, pelo contrário. Vivi as coisas mais belas e não trocaria nenhuma delas a não ser por um pouquinho mais de tempo. Odeio como o tempo é contado aqui. Odeio que o tempo seja contado!
      Eu sei que não existe borracha e nem máquina de viagem do tempo, e ainda que existissem não usaria nem por falta de opção. As pessoas falam da mente e do coração separados, que bom! porque juntos eles são maquiavelicamente inusitados. Juntos eles me fazem querer voltar e viver tudo de outro jeito. Só que eu fui estrela, e há algo na luz que estranhamente perdura o espaço, o tempo, o novo. O que há de estrela dentro de mim está feliz até aqui.
       O passado não precisa morrer. O passado não precisa sumir. O passado existe e faz o presente o momento certo pra decidir um futuro brilhante. Eu quero um futuro brilhante. Eu quero ser estrela.
        Eu vou ser estrela.